15/09/2008

Maiakovski

A década de 20 da nova sociedade soviética presenciou enorme expansão no número de teatros, tanto os de vanguarda como os tradicionais. Vsevolod Meyerhold, que voltara da prisão dos anti-revolucionários, assumiu a direção do Departamento Teatral do Comissariado da Educação. Em seu novo trabalho rejeitou a refinada estética simbolista que abraçara no passado, substituindo-a por formas e repertórios revolucionários. Em 1921 encarnou a nova versão do "Mistério Bufo“ de Maiakovski, dispensando o procênio pela primeira vez e substituindo o palco plano por uma espécie de palco em diferentes níveis; não haviam mais as tradicionais cortinas frontais nem cenários móveis. Este projeto propiciou uma quebra importante na tradição teatral e abriu caminho para posteriores desenvolvimentos do modelo construtivista de encenação. Nos dois anos seguintes, Meyerhold recebeu a colaboração de Popova e Stiepanova, que criaram cenários sugerindo engrenagens de máquinas, andaimes, estradas, rodas, discos giratórios, trapézios e trajes adequados a toda essa ambientação. Os atores – treinados pelo próprio Meyerhold – deveriam vestir e operar toda essa "parafernália" através de movimentos mecânicos, ou saltando e correndo como atletas ou acrobatas. Para Meyerhold, a verdade das relações e da conduta humanas, a essência do homem, expressava-se não pelas palavras, mas por gestos, olhares, passos e atitudes, acreditando que "a muda eloqüência do corpo" poderia fazer milagres. Foregger e Taírov também fizeram experimentos com as formas mecânicas do construtivismo. A produção desses diretores encontraram um equilíbrio de efeitos associativos e visuais, seguindo um caminho inteiramente oposto ao de Stanislávski.
Tanto o futuro como o passado foram retratados pelos artistas através do novo modelo construtivista. Alexandr Taírov foi o pioneiro de um estilo minimalista e expressivo da atuação no palco ao acrescentar mímicas e acrobacias em cena. Meyerhold suplantou este estilo em suas novas produções, como "Le Cocu Magnifique" e "A Morte de Tarielkin”, com designes de Popova e Stiepanova. O jovem Serguei Eiseinstein trabalhou como diretor artístico desta última. Em "A Terra em Desordem" de Tretiakov, Popova colocou em cena um carro, motocicletas, metralhadoras, telefones, cozinha móvel de campanha e uma máquina combinada de ceifar e debulhar como "adereços". Era a concretização do que se convencionou chamar "teatro teatral".

A excentricidade foi o desenvolvimento lógico do pensamento ilógico dos futuristas - Os artistas introduziam elementos absurdos ou quebras na lógica em seus trabalhos com o objetivo de reestruturar e reorientar a realidade. Utilizaram truques de circo e elementos do music-hall para suas sátiras sociais e políticas, além de princípios derivados do vaudeville.
Artistas gráficos e tipógrafos passaram a desenvolver um estilo de comunicação que deveria ser arrombado, fácil de ler e moderno. Em sua luta contra a especulação à época da NEP, Rodtchenko e Maiakovski trabalharam juntos em cartazes de advertência para lojas e produtos do Estado. Alieksiei Gan e Gustav Klutsis desenharam pôsteres, folhetos e capas de livros.
Quando Lênin morreu, em 1924, não havia um sucessor óbvio; durante os anos que se seguiram, porém, o Secretário do Partido, Josef Stálin, através de manobras políticas, obteve o controle do poder. Em 1928, introduziu o 1o. Plano Qüinqüenal. Todas as energias, culturais e ideológicas, tiveram que se submeter aos seus objetivos: a discordância transformou-se em traição.

A revolução na cultura acompanhou a econômica - Filmes e traduções de autores estrangeiros foram drasticamente reduzidos. Tanto as tendências culturais vanguardistas à esquerda, quanto as à direita (intelectuais burgueses) foram acusadas sem clemência pelos quadros jovens do partido e dos Komsomols, que elevavam em importância os membros das organizações artísticas proletárias. Estas foram encorajadas a atacar o "formalismo" na arte. Formaram-se verdadeiras cruzadas para transformar cada área da sociedade: a sátira era "anti-soviética"; os intelectuais eram "inimigos de classe", e seus experimentos "ininteligíveis para as massas". O primeiro ataque mais violento foi levado a cabo pelos membros do RAPP (Associação Russa dos Escritores Proletários) contra Maiakovski, que o repudiou em tom amargo numa das seções da Associação, justificando seus 20 anos de trabalho criativo com recortes de jornais sobre seus poemas, além de notas e cartas de trabalhadores que apreciavam sua obra.
As vozes estridentes desses grupos proletários combinavam uma rebelião juvenil a opiniões reacionárias da maioria silenciosa. Adotaram a retórica da Guerra Civil: seu gosto era pelo romântico, pelo idealista, pelo realista – nenhum artista deveria permanecer imune aos ataques dos "inimigos do povo". Em 1932 o "consenso" já era completo: os "formalistas" do "passado", querendo ou não, haviam reconhecido publicamente seus "desvios de percurso".

Maiakovski suicidou-se em 14 de abril de 1930.

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